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Comer não é só ato biológico: é também afetivo e social”

Comer não é apenas um ato biológico. Apesar de a nutrição tradicional ter, por muito tempo, reduzido a alimentação ao metabolismo de macronutrientes e balanço calórico, a ciência contemporânea aponta com cada vez mais clareza que comer também é um ato afetivo, social, simbólico e regulador das emoções. Para mulheres, principalmente mulheres aqueles que estão sobrecarregadas, com histórico de dietas, corpo vigiado e culpa alimentada, compreender essa dimensão ampliada do comer não é apenas importante: é um caminho de cura.


Neste artigo, quero explorar como o comer atravessa nossos afetos, nossa história e nossas relações sociais. Com base em evidências da análise do comportamento, da neurociência afetiva, da psicologia cultural e da nutrição comportamental, proponho uma abordagem que integra corpo, cultura e subjetividade — com afeto, presença e acolhimento.


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Comer como resposta emocional: a função do comportamento alimentar


Na análise do comportamento, aprendemos que o comer pode ser uma resposta operante a determinados contextos ambientais e emocionais. Isso significa que, em vez de ser apenas uma necessidade fisiológica, o ato de comer pode funcionar como uma estratégia de regulação, alívio, reforço ou escape.


Quando você come após um dia exaustivo, não se trata apenas de fome. Pode ser busca por conforto, por silêncio, por um espaço que não foi oferecido durante o dia. O alimento entra como mediador simbólico de ausências afetivas e estruturais.


Comer emocional é, portanto, uma experiência humana. Não é fracasso. Não é falta de controle. É resposta aprendida, muitas vezes mantida por contingências históricas e afetivas que precisam ser compreendidas, não punidas.


Neurociência afetiva: como o cérebro constrói as emoções


A teoria da emoção construída, proposta por Lisa Feldman Barrett, mostra que as emoções não são respostas automáticas e universais, mas sim construções cerebrais baseadas em experiências anteriores, linguagem, cultura e contexto corporal. Isso significa que o cérebro faz predições com base no que já viveu, inclusive em relação à comida.


Se associamos o feijão com arroz ao cuidado da avó, à proteção da mãe ou ao momento de pausa na correria, esse prato simples pode desencadear conforto emocional real. Comer é corpo, mas é também história. É neuroquímica, mas é também ancestralidade.


Portanto, a tentativa de regular a alimentação ignorando as emoções é cientificamente contraproducente. O alimento tem função simbólica e afetiva, e isso não é desculpa: é neurociência.


O papel das relações sociais e da cultura na construção do comer


Comer também é um ato social. Nós aprendemos o que é comida, como comemos e em que contexto comemos, através da cultura e das relações.


Na perspectiva afrocentrada, por exemplo, o alimento é elo entre gerações. Ele carrega memórias da terra, da oralidade, dos rituais. Deslegitimar o comer afetivo é, nesse sentido, deslegitimar também a história e os saberes ancestrais.


Comer algo preparado por sua mãe está, muitas vezes, eé experenciar um tipo de cuidado que o mundo negou. E isso é terapêutico. É alimento, mas é também resistência.


Afeto como ferramenta terapêutica na nutrição


A nutrição comportamental, quando exercida com responsabilidade e escuta, reconhece o afeto como parte essencial do tratamento. Comer com afeto não significa comer de forma desregulada, mas sim com presença, consciência, acolhimento e autonomia.


O protocolo perde força quando ignora a subjetividade. Em contrapartida, quando o afeto é incluído, ele favorece:


  • Redução da rigidez alimentar

  • Reconstrução da autoestima corporal

  • Regulação emocional sustentável

  • Adesão prolongada a mudanças de estilo de vida


Comer com afeto é também sobre mudar com segurança


Muitas mulheres buscam o cuidado nutricional com o desejo de reduzir o peso. Isso não é um problema em si, mas na está na forma como é conduzido. Dietas restritivas, uso de medicações sem indicação e acompanhamento de modificações de estilo de vida e descoladas do contexto emocional, tendem a fracassar e deixar sequelas.


Em contrapartida, mudanças de estilo de vida acompanhadas de modificações comportamentais, com escuta afetiva e suporte emocional, podem sim produzir resultados satisfatórios — inclusive na composição corporal —, mas sem traumas e de forma mais segura.


Para finalizar...


Comer com afeto não é fragilidade. É recurso de sobrevivência, regulação emocional e reconexão com a própria história. É uma maneira de existir com mais verdade, mais corpo e mais autonomia.


Na minha prática clínica, escolho honrar esse comer afetivo, oferecendo um espaço onde o alimento não é arma de controle, mas ponte de cuidado.


Porque comer com afeto também é ciência. Também é político. Também é terapêutico.


Se você sentiu que esse tipo de cuidado é para você, agende a sua consulta aqui.


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Dra. Danielle Fava

Nutricionista e Neuropsicopedagoga

CRN3 26112

"Do meu tempo para o seu tempo"

 
 
 

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© 2014 por Danielle Fava. Criado com Wix.com

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